O Sexo no Confessionário (1974): 10 Mandamentos Linhas de Fuga Para Descolonizar e Reivindicar o(s) Nosso(s) Corpo(s)

Por

Fernanda de Castro e Maria Manuel Baptista

Palavras-chave

Corpo(s); Lazer; Sexo; Religião; Poder

O Sexo no Confessionário, livro publicado em 1974, em Portugal e no Brasil, reúne um conjunto de 636 confissões realizadas nas igrejas italianas no início dos anos 70, com o objetivo de entender qual é o posicionamento da igreja face ao sexo nas várias dimensões e nos variados estágios da vida. Este estudo que aqui propomos, constitui a terceira e última parte de um estudo iniciado a 18 de janeiro de 2022, no âmbito do Seminário “Ócios e Sexualidade: Diálogos Pandémicos”, evento organizado pelo Grupo de Género e Performance (GECE) e pelo Núcleo de Estudos em Cultura e Ócio (NECO), da Universidade de Aveiro, prosseguido no II Congresso da Rede Internacional em Estudos Culturais (RIEC), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que agora almejamos concluir. O Sexo no Confessionário é objeto deste estudo, constituindo a base empírica, teórica e simbólica de construções e papéis sociais, sobretudo no que respeita aos Estudos de Género, e que dialoga com todos os trabalhos que estudam a articulação entre o lazer e o corpo, sexualidade e género. Na conclusão deste estudo, pretendemos traçar linhas de fuga em prol de uma descolonização e desterritorialização dos corpos precários, resgatando-os de um espaço de poder, operado por aparelhos hegemónicos, que os tornam, já no útero, uma propriedade público-privada e sobre os quais recaem normas, leis e convenções cisheteronormativas e conservadoras. A par e passo este estudo revelou que o sexo não é considerado, em nenhum momento, uma atividade de lazer e quando praticado com esse propósito, sem a intencionalidade de procriar, é tido como uma prática pecaminosa e censurável, pois para a religião católica o corpo sexual é, segundo o dogma, propriedade de Deus e, neste sentido, um instrumento (re)produtivo. É sobre estes corpos, construídos cultural e socialmente e atravessados simbólica e fisicamente por pensamentos hegemónicos cristalizantes, que recaem mecanismos e discursos de poder, sobretudo sobre o corpo da mulher. São diversas e consideradas incómodas as perguntas que potencialmente emergem desta obra quando articuladas com as dimensões teóricas preconizadas pelos Estudos Culturais e que, ao longo deste estudo, foram desenvolvidas para pensar e refletir profundamente sobre discursos e práticas naturalizadas e cristalizadas que infligem sobre os corpos violências várias, que os limitam nas suas performances e os tornam potências de (re)produção de violências. Que linhas de fuga são possíveis num quadro contextual e conjetural composto por linhas de segmentaridade duras, violentas e deterministas que se baseiam em normas rígidas, leis cisheteronormativas e conservadorismos? Inspiradas na subversão do dogma e das leis eternas e imutáveis, propomos, neste artigo, 10 mandamentos linhas de fuga que apontam, na esteira de Butler, Deleuze e Guattari, para a resistência à precariedade e para o direito e dever de reivindicação e humanização do(s) nosso(s) corpo(s).