Esta comunicação propõe uma análise reflexiva aos moldes sociais cisnormativos que podem determinar a existência e o modo de viver de algumas pessoas trans, eternizando a exclusividade da matriz binária na expressão de género e, concomitantemente, perpetuando padrões discriminatórios.
O trabalho resultante de uma dissertação de mestrado teve como intento caracterizar os fatores familiares e sociais que podem contribuir para comportamentos suicidas nas pessoas trans, e conhecer as suas perceções à inclusão do assistente social numa equipa multidisciplinar de saúde, auscultando de que forma este afetaria aos seus processos clínicos de transição/afirmação de género. A investigação decorreu no último trimestre de 2019 e baseou-se numa metodologia qualitativa através de entrevistas semiestruturadas a dez pessoas trans. Utilizou-se a análise categorial e de conteúdo.
O estudo mostrou que metade dos participantes tentaram o suicídio, a totalidade acusava ideação suicida e a maioria já tinha praticado comportamentos autolesivos.
Como principais resultados, em contexto familiar observou-se cenários de rejeição, agressão e expulsão. Na esfera social, observou-se uma harmonia com os pares, denotando-se, no entanto, uma minguada participação e integração sociais. Não obstante terem-se caraterizados os fatores acima descritos, emergiram dados consistentes com stressores que corroboram as expressões de cisgenderismo que regulam os padrões normativos na sociedade no que tange a identidade de género, tendo os participantes assegurado que se mantêm à margem da maioria das atividades de lazer.