Activismo Feminista Digital em Moçambique: Conquistas, Desafios e Perspectivas

Por

Alberto João Nhamuche; Maria Manuel Baptista e Hélia Bracons Carneiro

Palavras-chave

Estudos culturais; Movimento feminista; Activismo digital; Netnografia; Facebook

O presente trabalho, enquadrado no Programa Doutoral em Estudos Culturais, resulta da pesquisa em curso sobre o activismo feminista digital em Moçambique, abordando as principais conquistas, desafios e perspectivas. A sua essência é analisar o processo de apropriação das plataformas digitais, pelo movimento feminista, no âmbito de promoção do seu activismo. Para o alcance do objectivo definido, tendo em vista a natureza do campo da investigação, optamos por metodologia de cariz qualitativo, realizando pesquisa etnográfica virtual ou, simplesmente, a netnografia. Começamos pela procura de literatura crítica que pudesse suportar-nos na compreensão da temática em alusão, ou seja, o movimento feminista, sua concepção e migração para os meios digitais, sobretudo para a rede social Facebook, admitindo que seja esta a mais utilizada em Moçambique. Posteriormente, partimos para pesquisa empírica, observando, na rede social Facebook, páginas de duas organizações feministas moçambicanas, nomeadamene: a Rede Mulheres Jovens Líderes de Moçambique, uma organização que advoga pelos direitos humanos das mulheres, buscando participação social igualitária, e, a Associação LAMBDA, uma organização de defesa de minorias sexuais (LGBT). Seguimos com a realização de entrevistas em profundidade com as lideranças dessas organizações, incluindo as percepções de outros usuários dessa rede social. Alguns dados recolhidos permitem afirmar que a literatura sobre o activismo feminista digital revelou-nos que, por meio das redes sociais, o movimento feminista procura alcançar maior número do seu público-alvo, assim como melhora o seu relacionamento entre e inter, de forma muito dinâmica e rápida. Outrossim, olhando para as narrativas das lideranças dos movimentos que constituiram o objecto da presente pesquisa, com base nas entrevistas feitas, articuladas com a percepção de usuários do Facebook, compreendemos a existência de aspectos paradoxais: por um lado, as organizações feministas em Moçambique apropriam-se das plataformas digitais, no seu activismo e o Facebook é uma rede social com poder de não só possibilitar a quebra de barreiras geográficas, como também e sobretudo permite um feedback permanente dos membros das organizações activistas e a sua articulação com a sociedade; por outro, a mesma rede social é utilizada para acções de censura, condenações ou contra feministas, considerando o activismo como instigador à comportamentos considerados desviantes, tornando-se, portanto, enorme desafio para o activismo feminista digital em Moçambique.