Cuidar do Cabelo Enquanto Estética da Existência em Mulheres Negras

Por

Renata Castelo Branco Araujo e Maria Manuel Baptista

Palavras-chave

Cuidado de Si; UNILAB; Cabelo; Mulheres Negras; Estética da Existência

Entende-se que o cuidado com o cabelo vai além do âmbito individual e superficial, podendo vir a configurar práticas políticas de cuidado de si entendidas como resistência às estruturas de poder. Essa ideia se articula com o conceito de lazer como um tempo no qual se vivenciam valores que contribuem para mudanças morais e culturais. O presente trabalho objetiva analisar o cuidado com o próprio cabelo como prática de cuidado de si de estudantes mulheres africanas migrantes vivendo no Brasil, a partir da noção de estética da existência e das reflexões dos feminismos negro e decolonial. As participantes dessa investigação qualitativa são mulheres de origem africana vinculadas à UNILAB. Propõe-se uma relação entre lazer e práticas de liberdade. A sexualidade também se destaca na relação que o texto propõe entre sujeito do desejo e cuidado de si estabelecida por Michel Foucault, portanto, as principais teorias articuladas para esta investigação são a noção de cuidado de si foucaultiana, a ideia de lazer de Marcelino, as reflexões a respeito da autoestima da mulher negra de bell hooks, os estudos sobre consciência racial de Grada Kilomba e a pesquisa acerca do cuidado com o cabelo negro de Nilma Lino Gomes. Ilustrou-se com falas de uma estudante guineense de 27 anos que indicou o cuidado com o próprio cabelo como uma prática de cuidado de si, afirmação que desafia a noção de que o cabelo negro é cabelo ruim, símbolo de primitividade e não-civilização, uma concepção racista a ser superada, como explica Grada Kilomba. A investigação trata do cuidado de si, pensado por Foucault, levado para o contexto cotidiano de uma prática de lazer, alcançando a materialidade da vivência de uma mulher negra, dialogando com a ideia de celebrar os corpos negros sobre a qual discute bell hooks. O trabalho reforça a valorização de uma estética negra e pode contribuir com políticas afirmativas antirracistas voltadas para o público estudantil migrante.