A esquizoanálise é uma forma de pensamento desenvolvida por Deleuze e Guattari. Nesta forma de pensamento, os autores buscam compreender como os indivíduos têm seus desejos capturados e colonizados, de modo a servirem à cultura; e, por outro lado, como é possível ao próprio indivíduo a produção de práticas em que se possibilite o correr dos fluxos de seus desejos, como e por onde estes fluxos correm, quais outros fluxos são possíveis e quais são barrados quando estes correm. São processos que ocorrem a partir de nossas práticas cotidianas. E como exemplo de tais práticas podemos citar o ócio, que, embora seja um elemento necessário em nossas vidas, atualmente ainda é muito perpassado por preconceitos em nossas culturas, o que se expressa em frases populares como “mente vazia, oficina do diabo”, contribuindo para dificuldades em se viver possíveis ócios. Sabendo isso, o presente texto, de caráter ensaístico, tem como objetivo refletir sobre o ócio e o desejo à luz da esquizoanálise, com base em um ponto de vista deleuzeano. Trata-se de uma outra perspectiva sobre os estudos do ócio. Nesse sentido, realizamos uma revisão narrativa com base em literaturas convocadas referentes à temática em questão: ao ócio, ao desejo e à esquizoanálise. Isso nos levou ao desenvolvimento de três tópicos para diálogos: do ócio e do desejo; do ócio entre segmentaridades e fugas; e do “ócio menor”. Estes tópicos nos possibilitam pensar o ócio enquanto uma performance, uma prática em que se podem liberar fluxos do desejo barrados em nossos corpos. De desejos capturados em nossas culturas. Capturados pelo capital, o qual produz outros desejos. Desejos que internalizamos em nossos cotidianos. Trata-se de um ócio atravessado e produzido a partir de linhas de segmentaridade duras e flexíveis. Um ócio atravessado e produzido a partir de elementos e práticas estabelecidas em nossas culturas, perpassando a história de cada corpo. Um ócio que também é produzido e produz linhas de fuga. Linhas que nascem, emergem, escapam em direção ao novo, em direção à vida. À produção de vida. Promovendo desterritorializações. Trata-se de um “ócio menor”. Um ócio das minorias. Um ócio em que se agenciam fluxos do desejo de corpos à margem. Trata-se, portanto, de um ócio que se produz a partir de uma tensão entre desejos em cada corpo. Um campo de tensões. Evidenciando, desse modo, um ócio em seu aspecto político. Uma performance política. Uma performance que contribui para processos de produção de subjetividades. Uma performance que pode contribuir para produções de cultura.
Apontamentos sobre o Ócio e o Desejo: uma Perspectiva Esquizoanalítica
Por
Francisco Welligton Barbosa Jr e Maria Manuel Baptista
Palavras-chave
Ócio; Fluxo; Desejo; Esquizoanálise; Deleuze e Guattari