Lazer e sexualidade: eugenismo, machismo e racismo em A Vida Sexual (1913) de Egas Moniz

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Palavras-chave

Egas Moniz; Lazer; Sexualidade; Eugenismo; Machismo; Racismo

A obra de Egas Moniz, A Vida Sexual (1902), teve larga disseminação em Portugal desde a sua primeira edição. Tendo sido considerada uma obra de teor amoral e até imoral, esta obra de grande fôlego – trata-se na sua origem de uma tese de doutoramento – acabou por se naturalizar na cultura portuguesa (chegou a ter 19 edições).
Nos primórdios do Estado Novo voltou a ser considerada uma obra ‘perigosa’ e de venda restrita apenas nas farmácias portuguesas. Na verdade, o seu caracter gráfico, sobretudo na secção da Patologia, faz com que seja censurada em 1933.
Nesta obra ,Egas Moniz defende abertamente a teoria eugenista, para além de considerar que os homens são ‘seres sexuais’, enquanto as mulheres são ‘mães por natureza’. Para além disso, o autor considera haver raças superiores e inferiores. Não admira por isso que, neste quadro profundamente conservador e discriminatório, o lazer encontra-se completamente excluído da atividade sexual, a qual é vista essencialmente como atividade reprodutiva, sobretudo no que respeita à mulher.
Na presente reflexão, pretendemos fazer a ilustração e a análise crítica sobre alguns dos principais preconceitos, estereótipos e representações hegemónicas desta obra de referência na sociedade e cultura portuguesas do século XX, que, a coberto da suposta neutralidade do discurso científico, se arroga à verdade universal na condenação de qualquer forma de sexualidade que esteja intimamente conectada com qualquer forma de lazer. Assim, para Egas Moniz, quando lazer e sexualidade se cruzam estamos definitivamente em face de formas diversas de ‘parasexualidade’, oriundas da perversão moral e/ ou de uma ‘aberração genésica’, entre as quais destacam “a erotomania, exibicionismo, onanismo, feiticismo e bestialidade” (op cit, p. 487).